Algures...

Olhando o céu azul, celestial e misterioso, pergunto-me se aqueles pontinhos brilhantes também nos vêm como nós os vemos. Alguém escreveu: “Somos humanos porque observamos as estrelas, ou observamos as estrelas por sermos humanos?” Penso várias vezes nesta pergunta, mas o que me vem sempre à mente é se uma pessoa, muito rica e bem sucedida, que vive na sua torre de marfim, isolada e egoísta, vê as estrelas da mesma maneira que eu. Será que ela vê as estrelas de uma maneira tão admirável como eu? Ou, pelo contrário, inveja a sua beleza e liberdade, que chega ao ponto de as desejar só para si?

De facto, isto vai de encontro à maneira como a sociedade actual vive e se comporta. Cada vez mais frequentemente assistimos a um grande isolamento das pessoas, tanto nas suas casa como em si próprias. Umas, por causa do trabalho, deixam de ter tempo (ou fazem para não o terem) para saírem com os seus amigos, para casarem, para terem filhos, para a própria família; outras caem na graça das novas tecnologias e, pura e simplesmente, abandonam a sociedade. Existe pelo menos mais um tipo dessas pessoas: aquelas que não se “encaixam” no mundo, e que vivem num outro mundo, feito por elas e para elas.

É claro que aquela que dava tudo pelo trabalho, quando despertar, estará idosa e sozinha, vivendo numa casa apetrechada de coisas inúteis; a outra viverá igualmente sozinha, acompanhada pelo seu vício nas tecnologias. Mesmo a sonhadora, um dia, se verá em guerra no seu mundo imaginário.

Depois disto tudo regresso às estrelas. Todas as pessoas de que falei, depois de se aperceberem da sua situação, de certeza que verão, as estrelas, como as suas únicas amigas e ouvintes. Mas será justo para as estrelas? Não sentirão elas uma certa repugnância e incerteza? Alguém que sempre as ignorou durante toda a sua vida e, agora de um momento para o outro, já quer mudar o mundo.